Antonio e o Sonho de Voar

Há 26 anos, Antonio vive em silêncio,
Mas no olhar, há um universo imenso.
Numa cadeira de rodas, a vida o conduz,
E mesmo sem palavras, sua alma reluz.
Sua irmã Marina, sua outra metade,
Partiu cedo demais, deixando saudade.
Uma força maior a levou embora,
E Antonio ficou com o vazio de outrora.
Mas na pandemia, algo se intensificou,
Com mais tempo em casa o coração transbordou.
Os pais ao seu lado, sem pressa, sem fim,
E Antonio brilhava, tão feliz assim.
Seu olhar falava, seu jeito encantava,
Sem palavras, ele tudo explicava.
Um amor tão puro, um riso tão inteiro,
Que tocava a alma de quem fosse seu parceiro.
O pai, com o sonho guardado no peito,
De ver Antonio voar, como é seu direito.
E Antonio, no silêncio, parece dizer:
"Um dia, pai, eu também vou crescer."
Ele já voa, no brilho do olhar,
Na forma única de o mundo se mostrar.
E mesmo sem asas, já toca o céu,
Um anjo terrestre, envolto em seu véu.
Antonio é prova de que a vida é luz,
Que voar não é algo que se traduz.
E enquanto o pai sonha, e os dias se vão,
Antonio já voa no coração de quem lhe estende a mão.
